Apresentação


Percurso profissional e fundamentos para o desenvolvimento da pesquisa
Há mais de uma década atuo no setor de Design da Editora UFMG, onde pude acompanhar de perto a transformação de uma editora universitária que, além de sua vocação acadêmica e científica, passou a investir também na produção de livros voltados ao público infantojuvenil. Iniciei minha trajetória como diagramador de livros da linha CTP (Científico-Técnico-Profissional) — obras predominantemente textuais, voltadas para o público adulto, com eventuais gráficos e tabelas —, exercendo atividades como criação de layouts, definição de paletas de cores e tipografias, tratamento de imagens e construção de identidades visuais para publicações impressas e digitais.
A partir de 2018, com a criação do selo Estraladabão, dedicado à literatura infantojuvenil e à divulgação científica para crianças, passei a me envolver de forma mais direta com os desafios do design editorial voltado a esse público. Como coordenador do setor de Design, participei de coleções como Universidade das Crianças, Bicho Sapiens e Uma pergunta, várias respostas, em que pesquisadores(as) constroem narrativas ilustradas a partir de conceitos científicos, traduzindo-os para a linguagem infantil. Até o momento, essas coleções somam 22 títulos publicados.
Essa experiência tem suscitado uma série de questões que colocam o designer diante de dilemas práticos e conceituais que nem sempre contam com respostas objetivas. Ao longo dos projetos, ficou evidente que as escolhas de design não são neutras — são atravessadas por diretrizes institucionais, decisões editoriais, exigências do setor comercial e demandas de professoras, bibliotecárias, mediadoras de leitura e, claro, dos(as) escritores(as) e ilustradores(as). Perguntas como “Esse livro é para criança de qual idade?” e afirmações como “A fonte está pequena!”, “Criança só lê texto em caixa alta”, “Livro infantil precisa ser bonito!” são recorrentes e revelam tanto a complexidade do público quanto a importância das escolhas gráficas no processo de mediação. Soma-se a isso a necessidade de conhecimento técnico para atender às exigências de editais públicos — cada vez mais presentes na produção editorial voltada ao público infantil.
Outro fator relevante é o perfil dos(as) autores(as): diferentemente do mercado editorial comercial, os livros produzidos no âmbito do selo Estraladabão são, em sua maioria, escritos por professoras e pesquisadoras que, em geral, não possuem experiência prévia com a escrita para crianças. Isso torna ainda mais essencial o papel do design editorial como elo entre conteúdo, imagem e linguagem, contribuindo para que o resultado seja acessível, atrativo e coerente com o público-alvo.
Também chama atenção o momento em que o designer é inserido no processo editorial. Frequentemente, o profissional é acionado apenas na fase final, quando texto e ilustrações já estão prontos — o que limita significativamente sua atuação. Essa prática inviabiliza a construção de decisões gráficas mais estratégicas em colaboração com autores e ilustradores, comprometendo a integração entre forma e conteúdo. Nesse modelo, o designer assume uma função essencialmente técnica, quando, na verdade, poderia contribuir conceitualmente com o projeto desde suas fases iniciais.
Essas e outras situações vividas no cotidiano profissional despertaram em mim a necessidade de sistematizar essa experiência, analisá-la criticamente e transformá-la em objeto de investigação. A proposta de pesquisa nasce, portanto, do cruzamento entre teoria (alimentada por estudos sobre o livro ilustrado comercial) e prática, e busca contribuir para a compreensão mais aprofundada das relações entre design editorial e livros infantis ilustrados, especialmente aqueles voltados à divulgação científica para crianças.
Mais do que uma inquietação individual, trata-se de um problema relevante para o campo do design editorial — especialmente em um momento em que editoras públicas e universitárias, como a Editora UFMG, vêm ampliando seu escopo e buscando dialogar com novos públicos. Compreender os fatores que influenciam as decisões visuais na produção de livros infantis e propor caminhos mais informados e criteriosos é o que motiva esta pesquisa — que nasce, literalmente, da prática editorial e de suas urgências cotidianas.