Tipografia
A tipografia é um dos campos mais complexos e ricos dentro do design editorial. Dada sua amplitude e profundidade, seria possível compor um dicionário inteiro apenas com termos relacionados a ela. No contexto do livro ilustrado de divulgação científica para crianças, o cuidado tipográfico ganha ainda mais relevância, pois envolve tanto a função informativa quanto o apelo estético e a acessibilidade da leitura.

AAAHHH!, de Guilherme Karsten

Decisões tipográficas no design para o público infantil
O trabalho do designer envolve uma série de decisões que vão muito além da simples escolha de uma fonte “bonita” ou “adequada”. Cada escolha tipográfica — da família de tipos ao corpo, do espaçamento entre letras e linhas à disposição do texto na página — interfere diretamente na legibilidade e na leiturabilidade da obra, especialmente quando o leitor está em processo de aquisição da leitura e da escrita. Nesse contexto, o designer gráfico precisa considerar variáveis como a fase de letramento do público-alvo (pré-leitor, leitor iniciante ou leitor fluente), a escolha entre fontes com ou sem serifa, bastão ou cursiva, e o grau de distinção entre letras semelhantes, como “i” e “l”. Também entram em jogo a opção por caixa alta, caixa baixa ou versalete e seus impactos sobre a legibilidade, o tamanho do corpo tipográfico em relação ao formato da página e à densidade de texto, além da harmonia entre texto e imagem, evitando sobreposições ou interferências visuais. Por fim, a composição da mancha gráfica — com margens, espaçamentos e zonas de respiro bem planejadas — é essencial para guiar o olhar da criança e proporcionar uma leitura fluida e confortável.

Na obra Mamãe zangada, de Jutta Bauer, a escolha tipográfica chama a atenção: o “a” de um só andar aproxima-se visualmente do “o”, sobretudo quando aparecem lado a lado na palavra “voar”. Essa semelhança pode impactar a leitura de crianças em fase de alfabetização, que precisam se esforçar mais para diferenciar as letras.
As crianças, ao se alfabetizarem, não apenas precisam reconhecer diferentes estilos tipográficos — como letras manuscritas, impressas, em caixa alta, caixa baixa ou fontes do tipo script que simulam a escrita manual —, mas também devem aprender a identificar outros sinais presentes no texto. A pontuação (ponto final, ponto de interrogação, ponto de exclamação) desempenha um papel essencial, pois sinaliza pausas, entonações e sentidos do enunciado, impactando diretamente a compreensão da mensagem. Além disso, a criança precisa compreender a separação gráfica das palavras por espaços em branco, elemento crucial para a segmentação e para a fluidez da leitura (BNCC, 2017).
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017) enfatiza que tais aprendizagens devem estar articuladas a práticas sociais de leitura e escrita significativas, de modo a desenvolver progressivamente a autonomia das crianças na interpretação e na produção de textos.
Muito cansado e bem acordado, de Susanne Strasser



Há pesquisadores que defendem o uso de letras cursivas no processo de alfabetização, considerando-as mais adequadas que as fontes em formato bastão (Heitlinger, 2009). Segundo Sassoon (apud Lourenço, 2011), o aspecto mais relevante é a presença da chamada “linha de saída”, que facilita a continuidade da escrita.
Por outro lado, há quem argumente que as letras em bastão são mais apropriadas, já que sua simplicidade de traços contribui para a aprendizagem inicial. Além disso, estudos apontam que, para crianças, as fontes sem serifa tendem a ser mais indicadas do que as serifadas (Rocha, 2012; Lourenço, 2011).